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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Fragmentos de uma vida sem você


“Seduzir uma mulher está ao alcance do primeiro imbecil. Mas também é preciso saber romper; é nisso que se reconhece um homem maduro - A valsa dos adeuses – Milan Kundera”

 
Caminho pelas manhãs frias de São Paulo.
Elas são frias e hostis. O vento não se apieda de nenhum espaço entre você e suas vestes.
A chuva fina torna o dia menos aprazível. O pensamento procura vazão em tantas coisas que seja não pensar em você.
Mas não querer pensar em você, já é pensar o que lhe dizer.
Os dias frios não nos tornam alvos fáceis para a carência. Eles só tornam mais frios também, e o calor de certo alguem sempre é bem vindo. Nossa seletividade se expande e abrimos nossos corpos para um escopo maior. Carinho e calor sempre são bem vindos. Exceto para aqueles, cuja solidão é compassiva. A compreendem sem pressão, sem medo e faz dela parceira de dança.
Adoro ter companhia, mas não abro mão de minha solidão. Gosto dos meus momentos com ela. Mas são momentos no qual eu escolho, eu os quero. Momentos estes que procuro para satisfazer minha alma boemia.
O contrário nunca é aceito.  Quando a solidão é o que lhe resta, quando se é obrigada a lhe fazer companhia, nunca é agradável.
É, caro amigo, com a solidão você não é recíproco. Você a quer, ela esta ali, mas quando ela lhe quer, você se revolta.
No nosso último encontro brigamos.
Quero acender um cigarro como em revolta ao frio da rua. Lembro-me de ter te emprestado o isqueiro.
Droga!  Você nunca o devolve. A lembrança da chama do isqueiro me remete ao seu calor.
Droga de novo, não queria pensar em você!
Depois da briga, você sempre me ignora, me dá aquele “gelo”.
Seu gelo só me afasta e me aproxima da solidão. Anseio por seu calor, seu colo e seus afagos.
Engraçado! Sua ausência deixa a solidão bem irônica.
Desprezo seu gelo. Faço amor com ele mesmo. Finjo não ligar, e não ligo mesmo!
Não sei por que faz isto, me ignora e não “dá o braço a torcer”. Sabes que sofro com isto e quando do nosso retorno, volto cheia de cicatrizes. Bem se vê, meu sorriso é amarelo, meus abraços não são apertados e meus beijos mal dados. Seria bom que me esquecesse, deixasse que estas marcas sejam acariciadas por outros.
As pessoas na rua percebem meu mal humor. Não desvio o olhar do absorto. E a chuva fina ainda é contínua.
Cresci numa filosofia de que só evoluímos através do contato com os outros. Seu “gelo” me faz regredir.
São alguns minutos em alguns poucos metros em que penso no nosso livro preferido.
Sim, nosso! Um livro que sempre resenhávamos juntos. Livro de cabeceira, testemunha em nosso quarto, prova de nossa afinidade em todos os sentidos.
Debatíamos sobre as personagens e suas interações nas relações humanas. Se éramos, duas pessoas, postos a prova da teoria do escritor! Você aprendeu bem a arte de manipular, sou escrava de seus testes.
É, não há jeito, sucumbo aos seus apelos. Sem jeito, pego o telefone e te ligo, só para ver se esta bem! Naquela noite, dormimos juntos, a noite toda e de mãos dadas.
 
 
Grande Milan Kundera; ao diabo com sua insustentável leveza do ser!
Sou pesada, quilos de coração. Sou leve, alma de algodão.
 
*artigo informal e indefinido, sem conotação com a realidade

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