"Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação" Será - Legião Urbana
Sobre as fortalezas e fragilidades dos relacionamentos, acredito que já passamos por muitas fases. Houve uma época em que os casais só se conheciam quando se casavam, outra época em que o casamento era a ditadura do machismo, outra época sofrimento, outra época: negócio, já foi segurança, escapismo, fantasia, já foi amor nos tempo do cólera, já foi gelado, homodificado... Enfim, foi quase tudo e agora, os relacionamentos, na visão de Zygmunt Bauman, sociólogo polonês e um dos intelectuais mais respeitados da atualidade, são líquidos.
A expressão “líquido” aqui usada tem a meu ver, a conotação de algo que se evapora, algo frágil e incontrolável.
Na modernidade de hoje, onde podemos tão facilmente conhecer alguém através das redes sociais, sem nos expor tanto como antes, acabou por tornar o simples fato da procedência em algo “fora de moda”.
A modernidade estreitou laços, mas afrouxou valores.
Ela tornou os contatos mais efêmeros, o sexo mais importante, a quantidade num quesito e a qualidade dispensável...
Hoje, dificilmente alguém se prende pelo companheirismo ou pela parceria. Podemos até nos prender, porem muitos, estão flertando com novas oportunidades.
Os amores líquidos, em sua grande maioria e isso é uma opinião minha, são resultados de um imediatismo inconsequente.
Somos obrigados a nos conhecer rapidamente, a transar rapidamente, a nos aproveitar rapidamente, uma vez que o término dessas relações é liquefeito rapidamente... Evaporam no vazio interior, solidificam na banalidade dos dias atuais.
Temos uma sede desses amores, esperamos amores melhores, queremos consumir esse líquido, pois só há isso ofertado. Ninguém oferece mais relacionamentos sólidos, eles não têm mais tanto espaço no mercado.
Penso que chegamos a essa situação justamente por isso, poucos são os que querem matar a fome, saborear do amor sólido. Muitos são os que têm sede, sorvem de amores líquidos.
Lei da oferta e da demanda. Amores líquidos inundam nosso cotidiano, ludibria-nos com seu doce cálice cheio de luxuria.
Não apostamos no outro por medo da troca, medo do “furo”, medo da rejeição, medo...medo...medo...
E não obstante, digo que quem sofre esse medo, é tão ativo quanto passivo desses resultados propostos.
Essa interação é, obviamente e plenamente, subjetiva. Sendo assim, digo, que aquele que não confia, não é digno de confiança.
No mercado dos relacionamentos, expostos nas
vitrines das redes sociais, temos os seguintes estilos de amores;
Amores de bolso, amores fast food, amores roubados,
amores condenados, amores burlescos, amores rasos... amores...amores...amores!
Em caso de defeito, troca em 7 dias úteis.
No meu mundo, que não é este onde rotulamos
relacionamentos, muito menos nossos amores, eu condenso meus sentimentos, refrigero
minhas inseguranças e aqueço novos solos.
Faço isso na certeza de encontrar alguém que
compartilhe do mesmo mundo que o meu.
Mas me deve estar distante, nesse grande sertão seco
em que vivo, aquele afim de preparar a terra com esses líquidos, para plantio
de amor sólido.
Que sejam sorrisos nossos frutos...
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